A temporalidade em O último voo do flamingo do escritor mo^ambicano Mia Couto Palavras-chave: temporalidade, tempo, nao-tempo, percegao ocidental, percegao africana 1 A percegáo do tempo em geral e a percegáo ocidental A nossa percegao geral do tempo é chamada de ocidental. É aquela que nos herdamos da tradigao europeia, nacional, dos nossos pais. E, na maioria das vezes, torna-se também a nossa percegao pessoal. A teoria da relatividade pos fim a ideia do tempo absoluto. Tudo é relativo. Brincalhao e com muito humor, Einstein explicava numa carta a teoria da relatividade a dizer que quando estamos sentados ao lado de uma rapariga bonita por duas horas, parece que foi só dois minutos mas quando estamos sentados num fogao aceso por dois minutos, parece que foram duas horas. É assim que funciona a relatividade. No livro O último voo do flamingo do mogambicano Mia Couto, a percegao do tempo ocidental é confrontada com aquela africana, totalmente diferente e incompatível com a primeira. Na vila de Tizingara, nos primeiros anos de pós-guerra, tudo parecia correr bem, os capacetes azuis já haviam chegado para vigiarem o processo de paz, mas por razoes desconhecidas esses mesmos comegaram, de súbito, a explodir. Massimo Risi, um italiano que trabalha para as Nagoes Unidas, vem investigar as estranhas explosoes. Colocam-lhe um tradutor (que precisa de traduzir tudo menos palavras) e através do relato dele tomamos conhecimento dos factos e entramos num mundo de vivos e de mortos, de realidade e de fantasia, de feitigos e de sobrenatural. Qual é a percegao da vida no romance? A vida é assim: peixe vivo, mas que só vive no correr da água. Quem quer prender esse peixe tem que o matar. Só assim o possui em mao. Falo do tempo, falo da água. Os filhos se parecem com água andante, o irrecuperável curso do tempo. Um rio tem data de nascimento? Em que dia exacto nos nascem os filhos? (Couto, 2000: 47) O tempo, tal qual a água, tal qual a vida, tem que correr para ser vivo. O tempo parado significa o crescimento do tempo, a dilatagao do tempo e, a continuado, o nao-tempo (o nao-tempo pode significar pelo menos duas coisas - pode ser ligado a realidade, a situagao nos países africanos onde a primeira coisa que é precisa é sobreviver, no caso do Mogambique significa por exemplo o esquecimento do passado traumático, e por outro lado, pode significar o eterno, o atemporal). Daqui decorre uma constatagao muito importante que é o fio vermelho, o leitmotiv do romance inteiro: a vida tem que correr para ser viva, o tempo é só parado que cresce. O tempo dilata-se para um presente omnipresente, se podemos dizer assim, para um tempo sem principio nem fim, para um nao-tempo. Quando parado, nao há nem passado nem futuro, e por isso também nao há esperanga para um amanha melhor, embora seja mais fácil aguentar num nao-tempo do que lembrar o passado, tirá-lo do nao-tempo e faze-lo parte da vida do povo mogambicano. O tempo corre irrecuperavelmente, como a água, nos também, no nosso mundo ocidental, fazemos muitos paralelos tempo/água, mas só quando o tempo fica parado é que conseguimos apanhar o momento e faze-lo atemporal, faze-lo nao-tempo no sentido de atemporal, de petrificagao do tempo, de esquecimento total, ligado ao nao-espago, se nao, ao correr, escapa-se-nos pelos dedos, fica sem substancia, por assim dizer, sem que uma pessoa tenha consciencia dele. O correr do tempo é entao igual para ambas as percegoes, mas os ciclos sao diferentes; o nosso é linear e o africano é cíclico. No romance, o pai do tradutor pergunta: O rio parou? O italiano me olhou, arrelampejado. Eu sabia que nao era para se responder. Ele, afinal, nao falava o que dizia. Referia outro assunto. Cada coisa tem direito a ser uma palavra. Cada palavra tem o dever de nao ser nenhuma coisa. Seu assunto era o tempo. Como o rio: parado é que o tempo cresce. (Couto, 2000: 139) A última frase faz também alusao a uma coisa concreta que sao as cheias, as inundagoes que avassalaram o país depois de o livro ter sido escrito. Embora a percegao do tempo seja mais ou menos igual num continente determinado, cada ser humano tem além disso uma percegao pessoal, um tempo seu. «Eu olhava a teimosia do meu pai e me parecia ver nele uma raga inteira sentando o seu tempo contra o tempo dos outros» (Couto, 2000: 138). Aqui se trata do tempo no sentido da realidade, de uma percegao pessoal do tempo. Podemos fazer paralelismo com outra obra de Mia Couto, Cada homem é uma raga, entao a frase pode fazer referencia a uma raga, a uma geragao (a velha do pai contra a jovem do filho/tradutor), a um grupo de pessoas ou a um particular. E qual a diferenga entre as duas concegoes do tempo? Nós, os ocidentais, conhecemos a concegao linear do tempo com o passado, o presente e o futuro, os africanos, neste caso os mogambicanos, conhecem a concegao circular com um grande presente. O nosso presente é só um momento ínfimo e o deles é enorme. Nós passamos a vida a correr e por isso nao conseguimos apanhar a vida que nos foge também ao morrer, usando a ironia. Mas, é só na tranquilidade, na calma, no sossego e ao parar que apanhamos o tempo, o momento e o fazemos nosso, e por assim dizer atemporal. 2 A percegáo africana É similar a latino-americana - nao há passado nem futuro mas só um grande presente, nao há limite entre a morte e a vida, fazem parte de um mesmo ciclo, o que nao é o caso na Europa. «Em fins de tarde, os flamingos cruzavam o céu. Minha mae ficava calada, contemplando o voo. Enquanto nao se extinguissem os longos pássaros ela nao pronunciava palavra. Nem eu me podia mexer. Tudo, nesse momento, era sagrado» (Couto, 2000: 49). A imagem que Mia Couto usa para ilustrar a percegao mogambicana e a realidade mogambicana sao os flamingos (o título!), a atemporalidade é pintada com eles, mas nao só, eles sao também anunciadores de um tempo novo porque conseguem fazer correr, mexer o tempo outra vez. No momento em que eles passam, o tempo para, torna-se sagrado, mas sagrado é também o futuro (na percegao do povo mogambicano) e por isso os flamingos também anunciam uma esperanga para o futuro, um futuro, esperemos, melhor. Vejamos mais em pormenor alguns exemplos de percegao africana: o italiano, quando chega, diz: «Eu posso falar e entender. Problema nao é a língua. O que eu nao entendo é este mundo daqui» (Couto, 2000: 42); o mundo africano é dificilmente percetível para um europeu, por isso ele precisa de um tradutor como já foi referido. O italiano tem que deixar atrás toda a sua bagagem cultural e todo o seu conhecimento ocidental para poder penetrar nesse mundo, tao diferente daquele que conhece, e tentar saber alguma coisa dos desaparecimentos. Sem mudanga que ocorresse nele nao é possível saber nada, nao se pode abrir a porta desse outro mundo com o qual se ve confrontado. Ele tem de aceitar a possibilidade de nao-tempo, de ciclismo. O italiano é muito impaciente e por isso recebe um conselho: «Anteceder-se ao tempo é coisa que só pode trazer azares. E o anfitriao aconselhou: o hóspede que pousasse as malas e a alma» (Couto, 2000: 38). Só devagarinho, com tempo, é que conseguirá fazer as coisas que pretende, penetrar no essencial, na alma das coisas e talvez pessoas. A alma que ele tem de pousar é aquela, ligada a uma outra temporalidade, a ocidental, tem de pousar a alma que tinha até agora e admitir uma outra realidade e assim uma outra faceta da alma dele que antes ainda nao conhecia, uma outra alma, por assim dizer. Lemos no romance: «[...] essa mentira de termos uma só alma» (Couto, 2000: 43). Fernando Pessoa diz que somos múltiplos. Ao instalar-se no quarto dele, o italiano testemunha um encontro que o confronta com essa realidade, a temporalidade completamente diferente. Aqui temos a nogao do tempo parado, de um grande presente, do atemporal. De repente, o italiano tropegou num vulto. Era uma velha, talvez a mais idosa pessoa que ele jamais vira. Ajudou-a erguer-se, conduziu-a até a porta do quarto do lado. Só entao, face a intensa luminosidade que escapava de uma janela, ele notou a capulana mal presa em redor da cancromida vizinha. O italiano esfregou os olhos como se buscasse acertar visao. É que o pano deixava entrever um corpo surpreendentemente liso, de moga polpuda e convidativa. Era como se aquele rosto encarquilhado nao pertencesse aquela substancia dela. (Couto, 2000: 41) Depois deste encontro, o italiano queixa-se: «Eu nao posso entender! É difícil, sim senhor. Até porque essa mulher nao existe. Nao existe? Nao existe do modo como o senhor pensa» (Couto, 2000: 61). Para melhor navegar neste mundo tao diferente do dele, o italiano recebe outro conselho (e nós podemos identificar-nos com ele). E, no fim, só um conselho. É que há perguntas que nao podem ser dirigidas as pessoas, mas a vida. Pergunte a vida, senhor. Mas nao a este lado da vida. Porque a vida nao acaba do lado dos vivos. Vai para além, para o lado dos falecidos. Procura desse outro lado da vida, senhor. (Couto, 2000: 159) Os mortos, que sabem muito, falam pela boca dos vivos, diz Mia Couto. Por eles é possível descobrir alguns segredos. Nao há distingao entre o lado de cá e o lado de lá. Também na morte, a vida prolonga-se e os mortos podem falar através dos vivos, como já foi referido. Eis alguns exemplos. «Nossa gente nao vive sem tratar os do lado de lá, passados a poente fino. Habitamos assim: a vida a oriente, a morte a ocidente. [...] Nao ve os rios que nunca enchem o mar? A vida de cada um também é assim: está sempre toda por viver» (Couto, 2000: 51-52). A vida e a morte confundem-se num ciclo só. Viver é fácil: até os mortos conseguem. Mas a vida é um peso que precisa ser carregado por todos os viventes. A vida, caro senhor, a vida é um beijo doce em boca amarga. Se acautele com eles, meu amigo. Uns nao vivem por temer morrer; eu nao morro por temer viver. Entende, o senhor? O tempo aqui é de sobrevivencias. Nao é lá como na sua terra. Aqui só chega ao futuro quem vive devagarzito. Nos cansamos só a afastar os maus espíritos. (Couto, 2000: 157) Vamos ver na continuado quem sao os maus espíritos. Do lado de lá está a tia Hortensia que, ainda viva, «[...] ficava na varanda o dia inteiro, fingindo olhar o tempo. Nao era no tempo que punha o olhar. Porque, a bem dizer, ela ganhara acesso a outras visoes» (Couto, 2000: 65-66). Via além e ainda após a morte visitava os vivos na pele de um louva-a-deus que «nao era um simples insecto. Era um antepassado visitando os viventes» (Couto, 2000: 62). Os mortos visitam os vivos e fazem parte da vida deles. Muitas vezes num corpo diferente daquele que tinham quando eram vivos. O pai do tradutor, que é muito sábio, pensa assim: «segundo ele o corpo era feito de tempo. Acabado o tempo que nos é devido, termina também o corpo. Depois de tudo, sobra o que? Os ossos. O nao-tempo, nossa mineral essencia. Se de alguma coisa temos que tratar bem é do esqueleto, nossa tímida e oculta eternidade» (Couto, 2000: 136). Quando o pai ia dormir pousava os ossos, despia a ossatura. O esqueleto é imóvel, nao é volátil como a alma. No número 3. tentaremos mostrar sobretudo a ligagao deste conceito com o período de pós-guerra traumático no Mogambique. 3 Tempo - nao-tempo É preciso reconquistar este tempo, faze-lo nosso. Mia Couto O título é ligado a história, ao período traumático de guerra do povo mogambicano. Pode ter pelo menos duas interpretagoes; uma mais real e outra, ligada ao atemporal, ao eterno, como sublinhou também o escritor Mia Couto. Falemos nestas duas nogoes no exemplo mogambicano, em relagao a historia contemporánea mogambicana. O abismo que aparece no livro como metáfora da situagao de pós-guerra é um símbolo do nao-tempo, da estratégia de fazer desaparecer o tempo que se quer esquecer. É preciso reconquistar este tempo, faze-lo nosso, como diz Mia Couto. Depois do período traumático, é natural sentir saudades do nao-tempo, é muito mais difícil confrontar o tempo e faze-lo seu, com todo o magoante que trouxe a nagao. «Saudade de um tempo? Tenho saudade é de nao haver tempo [Dito de Tizingara]» (Couto, 2000: 35). O que acontece entao na vila de Tizingara? Com Estevao, o governador da vila, «se passou o seguinte: a sua vida esqueceu-se da sua palavra. O hoje comeu o ontem. Com meu pai passou-se o oposto - ele queria viver em nenhum tempo» (Couto, 2000: 165). Por um lado, o mau vem de fora: vai ser preciso bastante tempo para a situagao mudar, um tempo novo há-de chegar mas tudo depende do povo, um tempo novo tem de nascer dentro do povo mogambicano (distingao do tempo interior/exterior). O que fizeram esses brancos foi ocuparem-nos. Nao foi só a terra: ocuparam-nos a nós, acamparam no meio das nossas cabegas. Somos madeira que apanhou chuva. Agora nao acendemos nem damos sombra. Temos de secar a luz de um sol que ainda nao há. Esse sol só pode nascer dentro de nós. (Couto, 2000: 158) Mas, o mau nao veio só de fora, o maior mau vem de dentro (como vimos também antes, no caso do governador da vila Estevao): «Se os chefes, neste novo tempo, respeitassem a harmonia entre terra e espíritos, entao cairiam as boas chuvas e os homens colheriam gerais felicidades» (Couto, 2000: 114). Cada país precisa do seu espago para preenche-lo e da sua liberdade para ser vivida no tempo, para afastar o nao-tempo e o nao espago. No período do nao-tempo, nao se está nem no tempo nem no espago mas fora do tempo e do espago. Os habitantes sao expatriados, exilados da própria terra, do próprio espago e do próprio tempo! «[...] cada país ficaria em suspenso, a espera de um tempo favorável para regressar ao seu próprio chao. Aqueles territórios poderiam entao ser nagoes, onde se espeta uma sonhada bandeira. Até lá era o vazio do nada, um solugo no tempo» (Couto, 2000: 221). Eis uma imagem muito bonita do que é para eles o tempo. Sao saudades daquilo que foi. Lembra o título do outro livro de Mia Couto Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra. «Para nós a terra é uma boca, a alma de um búzio. O tempo é o caracol que enrola essa concha. Encostamos o ouvido nesse búzio e ouvimos o princípio, quando tudo era antigamente» (Couto, 2000: 190). No final do romance, as palavras que sao palavras de esperanza de um tempo novo, melhor, promissor, anunciado pelos flamingos, sao destinadas ao italiano: «E agora se vá. Vire costas e nao volte para trás [...] Vá, que um outro tempo nos há-de visitar» (Couto, 2000: 185). Ele quer encontrar a resposta as dúvidas pelas quais veio do seu mundo para este mundo tao diferente, a terra de um povo, atormentado pela guerra que lhe roubou o tempo que agora tem de reconquistar para faze-lo seu e para poder comegar a construir um presente, a espera de um outro tempo, um tempo melhor, que nascesse dentro de cada um, nas alas dos flamingos. O povo mogambicano tem de comegar a construir um presente novo e melhor sozinho, depois de reconquistar o passado e acreditar (simbolicamente nos flamingos, quer dizer num futuro melhor) para que o tempo comece a correr outra vez. [...] me perguntei se a viagem em que tinha embarcado meu pai nao teria sido o último voo do flamingo. Ainda assim, me deixei quieto, sentado. Na espera de um outro tempo. Até que escutei a cangao de minha mae, essa que ela entoava para que os flamingos empurrassem o sol do outro lado do mundo. (Couto, 2000: 224-225) Bibliografía Avguštin (2003): Izpovedi. Celje: Mohorjeva družba. Camilo, D. (2008): «A concepgao de tempo em Santo Agostinho», Webartigos: http://www.webartigos.com/artigos/a-concepcao-de-tempo-em-agostinho/8524/ (29-09-2011). Couto, M. (1990): Cada homem é uma raga. Lisboa: Caminho. Couto, M. (1992): Terra sonámbula. Lisboa: Caminho. Couto, M. (2000): O último voo do flamingo. Lisboa: Caminho. Couto, M. 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Through his narrative we witness events and enter the world of the living and the dead, of reality and fantasy, of magic and the supernatural. How can one negotiate between the Europeans, for whom now is practically non-existent and the Mozambicans who, on one hand, lack a word for the future, which they perceive as something sacred and untouchable, while on the other the past has generated so much disappointment and inflicted so much pain that they simply wish it would fade into oblivion so they could create a new time? Yet, there is little hope for a new and brighter time unless they somehow overcome the traumatic war period and transform it into their time. This novel is about recovering the time lost in the past by relying on the wisdom of ancestors; it speaks of creating a new time, our time, and of man's aspirations for a better future on the wings of flamingos signifying hope. Pojmovanje časa v romanu Zadnji plamenčev let mozambiškega pisatelja Mia Couta Ključne besede: pojmovanje časa, čas, nečas, zahodnjaško pojmovanje časa, afriško pojmovanje časa V romanu Zadnji plamenčev let se naše evropejsko linearno pojmovanje časa, ki ima korenine v krščanstvu, srečuje z neevropejskim, tokrat afriškim, ki je, tako kot npr. latinskoameriško, ciklično. Poleg teh dveh konceptov je prisotno še individualno dojemanje časovne dimenzije. Massimo Risi, Italijan, ki dela za Združene narode, pride raziskovat nenavadne eksplozije. Dodelijo mu prevajalca. Skozi njegovo pripoved smo priča dejstvom in vstopimo v svet živih in mrtvih, resničnosti in fantazije, čarovnij in nadnaravnega. Kako krmariti med Evropejci, za katere zdaj tako rekoč ne obstaja, in Mozambičani, ki ne poznajo besede za prihodnost, saj jo dojemajo kot nekaj svetega, nedotakljivega, preteklost pa je prinesla toliko razočaranj, pustila toliko ran, da si jo želijo pozabiti, ustvariti nov čas? Vendar si novega, svetlejšega časa ni mogoče ustvariti, če tistega travmatičnega iz vojnega obdobja nekako ponovno ne pridobijo in ga spremenijo v »svoj čas«, kot pravi pisatelj. To je roman o lovljenju izgubljenega časa preteklosti s pomočjo modrosti prednikov, o ustvarjanju novega, našega časa in stremljenju k boljši prihodnosti, ki si jo vsi želimo, na krilih preletavajočih plamencev, ki naznanjajo upanje.