Fernando Venancio Peixoto da Fonseca CDV 806.90-022-3 Lisboa ASPECTOS DO VOCABULARIO E SEMANTICA DO PORTUGUES ARCAICO Sob este titulo ocupamo-nos aqui de alguns aspectos dos vocabulos que consti­tuem as cr6nicas em portugues dos Portugaliae Monumenta Historica (vol. Scripto­res, publicado em Lisboa, em 1856, por Alexandre Herculano). Todos os problemas relacionados com essa edi9ao, principalmente do ponto de vista diplomatico e pa!eo­grafico, se encontram por n6s estudados em extenso artigo da Revue des Langues Romanes, torno LXXVII (1967), Les Chroniques Portugaises des Portugaliae Mo­numenta Historica. A ortografia de todos os exemplos e a que apuramos, nos textos que serviram de fonte acr6nicas, ser a mais fidedigna, e nem sempre a ocorrente nos Scriptores, a que, no entanto, para comodidade do leitor, nos reportamos, indican­do a pagina, coluna e linha onde os mesmos se acham, muitas vezes em leitura me­nos exacta. Primeiramente apresentamos o elenco dos LATINISMOS (1.), come9ando pe­los ortogrdficos e foneticos (a). Exemplos em que um g esconde a pronuncia i: Reg­nou (22,B,53), Regno (31,B,45); vocabulos onde um cesta nas mesmas condi9oes: octubro (29,A,30), despecto (24,B,3}, perjecto (78,B,55), electo (24,B,27); em acto­ridade (25 ,A, 7), o c ja nao se pronunciava, mas podia representar o u etimol6gico como ele (auctoritate->autoridade); emjuventute (77,B,21), o segundo t mascara o da que dera origem Guventude) e em Redemptor (24,B,57) o p ja devia ser mudo, como hoje (redentor). Como latinismos morfol6gicos (b) estao os superlativos eru­ditos inuictissimo e christianissimo (407,B,19, no titulo da cronica) e santissima (76,B,56). Passando aos latinismos semiinticos e lexicais (c), citem-se costantinopoly (76,A,10), termo latino proveniente do grego, pelo actual Constantinopla; genesy (78,B,58), por Genesis; adliterom (78,B,59), bibli6nimo arcaico, isto e, Vulgata; co­lor (28,A,ll), usado ate tarde, ao lado de cor, que dele provem; persoalmente (25,B,21), cuja forma vernacula e pessoalmente (o latim rs, precedido de vogal, deu ss em portugues, como no arcaico osso, de ursu-, ou os hodiernos pessego, de per­sicu-, e avesso, de adversu-); sobrinho (22,B,23), latinismo semantico quando no sentido de 'primo', como no local citado. O latinismo sintdctico (d) mais importante e o emprego de nem com o sentido arcaico de e (copulativo en vez de disjunctivo). Eis o passo em que occore: "Eeste era o mais esffor9ato caualleiro em armas Eem for9a que auija em espanha, ne de­que os mouros mayor medo auijan" (29,B,5). PSEUDOLA TINISMOS (2.) ortograficos, devidos a ultracorrec9ao, temos sob<;essor (23,B,9), correspondente ao actual sucessor, causado dela consciencia da composi9ao da palavra com o prefixo sub-, que deu so(b); supito (417 ,A,30), cujo p se deve a regressao por pseudo-eruditismo (subito ja tinha b no etimo); diipno (27 ,A,23), eujo p nao tem valor fonetieo, nao passa tambem de mero pseudo­eruditismo (ef. Edwin Williams, From Latin to Portuguese, * 26,1), e dapno (27,B,52), que poderia ter vindo do anterior, por desnasala9ao (a-n>a-n), mas onde e mais provavel que o eseriba se tenha esquecido do til; escrepuer (78,B,47) ou escri­puer (78,B,43), eujo p, alem de mudo, e pseudo-erudito, por influeneia do part. pass. escri(p)to (cf. E. W., From Latin,* 28,2); e c/uz (30,B,56), por cruz (o eseriba, poueo sabedor da Hngua Jatina, pensava eertamente que a er-inicial em portugues eorrespondia sempre c/-em latim). Prosseguimos o presente trabalho eom o rol de todas as CONVERGENTES (3.) eneontradas nos textos das er6nieas: a: l. artigo (22,A,17), pron. pess. (24,B,l) e pron. dem. (24,A,46)<1lla-, por pr6clise, atraves da forma la, depois de vogal: 2. prep. (22,B,28)disso (410,B,26)desde) o (de des+ to); dom: l. titulo (22,A,19)epoea: l. imperf. do v. ser (26,A,4); leito: l. eama (78,A,22); 2. eleitomao, are., mau (maaos [sic] eonse­lheiros, 31,B,35) e-e; pedir (419,A,28) e [pidir] (pidimos, 31,B,46)i-i); peego 76,A,44) e pego (418,B,63)i-i [poboar] (poboada, 412,A,7), [poborar] (poborey, 29,B,39) e [povorar] (pouorou, 26,A, 1 l)pose-o; cf. E.W., Fr. Lat., § 143,3,c); [pormeter] (pormeteo, 27,A,43) e [prameter] (prometi, 411,B,32)trienta >*treinta>triinta>trinta; cf. Neto, Fontes, p. 93). Hum (409,A,44, no tit. do cap. IV) e hiiii (22,A,26)vigenti>vienti>viinti>veinte>viinte >vinte; of. Neto, Fontes, p. 93); ue­stiduras (28,A,23°24) e uistiduras (28,B,23) vestituras (ass. e-i>i-i; cf. Huber, Altp., § 259); formas do verbo vyr (417,A,14) ou vijr (26,B,34)