Femando Venancio Peixoto da Fonseca Lisboa, Portugal CHRONICAS BREVES E MEMÓRIAS AVULSAS DE SANTA CRUZ DE COIMBRA (P. M. H., Scriptores, pp. 23-32) Alexandre Herculano intitulou assim, nos seus preiimbulos, quatro pequenas composi9oes históricas (que se distinguem entre si pelos n.0 s I a IV), as quais, é ele quemo escreve, sao evidentemente anteriores ao século XVI, e fazem parte do manuscrito 79 da Biblioteca Pú- blica do Porto, originário do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Este manuscrito (a sua cota actual temo n.0 103), urna parte do qual é de pergaminho e a outra de papel, compreende 47 folhas, em diversas letras da segunda metade do século XV. Os fragmentos o.os I e 11 ofere- cem ambos pouco interesse literário. O primeiro, no dizer de Herculano, é urna compila9ao de memórias isoladas coligidas sem ordem cronológica de diversas fontes, e interrompidas de tempos a tempos por matérias históricas; feita "na segunda metade do século XV', estende-se até ao reinado de Dom Dinis, pois, se bem que os seus artigos se re:firam também a tempos posteriores (o texto completo abrange factos relativos ao reinado de DomDuarte), Herculano quis limitá-la aquele período. Depois do excelente trabalho constituído pela Jntrodu<;iio de L. F. Lindley Cintra a sua edi9ao crítica da Crónica Geral de Espanha de 1344, é impossível passar em silencio grande número de dados importantes respeitantes a estas crónicas. Já vimos alguns deles quando tratámos, noutro local, da Crónica Breve do Arquivo Nacional. Cintra (jbidem, página CCCLXXL e nota 145, na mesma página) salienta que duas noticias (as da traslada9ao dos restos de Sao Vicente para Lisboa e a funda\:ao do mosteiro de Sao Vicente de Fora, e a da doa9ao de 80.000 maravedis a Ordem do Hospital (Script., I, p. 24, B) aparecem nesta cróni- ca, urna mais completa, a outra menos, que na Crónica de Vznte Reís, sendo a mais comple- ta a da doa9ao ao Hospital. Ve-se assim, acrescenta, que as duas tem urna fonte comum. É possível que essa fonte seja a versao prolongada dos Anais portugueses, utilizados pelo autor da Crónica de Vznte Reís noutros passos, versao semelhante, mas oeste caso particular diferindo algo, a Chronica Gothorum, onde estas noticias nao estao incluídas. Cintra escreve mais longe (p. CCCLXXIII), acerca das noticias da fimda\:ao da Ordem de Sant'lago em Portugal, do povoamento de Santa Cruz de Coimbra e da funda\:ao do Mostei- ro de Alcoba9a, que as duas primeiras se acham nesta crónica de forma mais completa que no fragmento n. 0 IV. A segunda contém no texto a indica9ao seguinte: "Em huum liuro da samcristia diz os primeiros irmaos religiosos que com~arom e edi:ficarom ho moesteiro de sancta vera cruz". E Cintra prossegue: "Ora a ¡a Crónica Breve é urna compila9ao [ ... ] de apontamentos de tipo analítico registados em várias épocas em livros de várias naturezas (como este "da Sacristia") conservados no Mosteiro de Santa Cruz." (Ibídem). Na nota cor- respondente (n.0 150), Cintra explica que entre estes livros se encontra o Livro da Noa, que 67 o compilador cita geralmente sob o nome de "psalteyro das eras", na parte que Herculano nao publicou. "Segue-se urna rapida historia [a Segunda Crónica Breve] dos reinados de Affonso Hen- riques e de Sancho I, com o titulo: Esta he a arenga que fezerom em lixb6 quando fezerom as festas aa emperatriz ji/ha de/rey dom eduarte. Apesar de designada como um discurso oratorio, esta composi9ao é rigorosamente urna especie de chronica dos nossos dous primei- ros reis. O titulo, porem, mostra a epocha em que foi escripta." (Herculano, Script., p. 23). Na página CCCLIII da lntrodur;iio a sus edi9ao crítica da Crónica Geral de Espanha, apoiando-se em A. Caetano de Sousa (História Genealógica, II, Coimbra, 1946, p. 315) Cintra diz-nos que essas festas se realizaram em 1451, portanto na data do texto, consagra- do a um elogio dos dois primeiros reis de Portugal. E acrescenta: "Como recentemente [1949] demonstrou Magalhaes Basto numa série de artigos publicados em O Primeiro de Janeiro, o autor da arenga baseou-se quase exclusivamente nos letreiros que, escritos em pergaminhos grandes, pregados em tábuas, se encontravam, nos inícios do século XV, no Mosteiro de Santa Cruz, sobre os túmulos de Afonso Henriques e de Sancho I." (Jbidem, CCCLIII-IV). Cintra ere que esses letreiros sao derivados da Crónica de 1344 e de várias memórias conservadas no Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, que o autor desta última nao conheceu (estas memórias sao-lhe mesmo parcialmente posteriores), mas que a Crónica de 1419 já utilizara. Na nota 106 (das páginas CCCLIV-V), Cintra afirma em seguida a inex- actidao da opiniao de Gonzaga de Azevedo acerca da 11ª Crónica Breve, que se pode ler na sua História de Portugal, IV, página 281, onde dizque a considera (e a P também) escrita em latim, pelo menos na maior parte, antes do fim do século XIII, e vertida em portugues em época posterior. Cintra termina assim a nota supracitada: "O valor que, como fonte histórica, lhe reconhece vem seguramente da utiliza9ao, a que me referi, de memórias con- servadas no Mosteiro de Santa Cruz." Duas crónicas, para Herculano igualmente dos fins do século XV, sao os outros monu- mentos. A primeira destas últimas, e a mais longa das quatro composi9oes que come9a na folha 30 r (pergaminho) e termina na folha 39 r, l. 17 (a última), é dividida em capítulos e ocupa-se do conde Dom Henrique e do reinado do primeiro rei de Portugal. Herculano jul- gava que ela seria um primeiro ensaio de Duarte Galvao para a sua Crónica de Dom Afonso Henriques, ou lhe teria servido de base. O professor Rodrigues Lapa, nas suas magistrais Lir;oes de Literatura Portuguesa /Época Medieval (5ª ed. revista, cap. VII, p. 266), acha im- possível a primeira hipótese, fundando-se no estudo do texto e na comparai;ao com o frag- mento IV, que, restava dizer, é urna crónica mais concisa, escrita noutra letra, que se estende até Dom Dinis e se consagra em particular ao reinado de Afonso I. Em 1934 (Lir;oes, 1 ª ed., p. 206), para Rodrigues Lapa o fragmento III devia ser da segunda metade do século XVI, visto que parece muito mais moderno que o IV, escrito sem dúvida ainda na primeira metade do século XIV, depois da morte de DomDinis. Mas, mais tarde (Lir;oes, 5ª ed., 1964), Lapa renuncia prudentemente a urna localizai;ao no tempo tao precisa dos dois fragmentos, em- bora continue a achar o n ° IV mais antigo que o outro. Escreve Rodrigues Lapa (páginas 266-267) acerca do modo de datar os antigos textos portugueses: "Mas